segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Teses por uma nova política económica I

    I
Lenine em 1921 perante o descalabro económico do “comunismo de guerra” teve a inteligência de iniciar uma nova política económica (NPE) assente nalguma liberalização da economia russa. Esta NPE deu espaço para a reconstrução e consolidação da Rússia soviética. A ortodoxia cedeu perante as realidades.
Em Portugal, vivemos uma situação semelhante, agora no espectro oposto. Há uma ortodoxia dita “neo-liberal”- na realidade é mais uma ortodoxia germânica -que sufoca a economia portuguesa, e não há “blips” de crescimento que escondam a necessidade de uma Nova Política Económica para Portugal.
            É preciso começar por recordar que o desenvolvimento intenso da indústria alemã, que a fez catapultar para os lugares cimeiros do mundo começou com uma política protecionista. Foi Napoleão o seu iniciador em 1806 ao proclamar o “bloqueio continental” que foi aplicado aos Prussianos derrotados por ele em Iena. Esse bloqueio implicou que não existissem mais importações de Inglaterra. Os produtos ingleses deixaram de fazer concorrência aos alemães e estes tiveram oportunidade de desenvolver a sua indústria sem competição de produtos mais baratos. É em 1806, num clima de protecção que se começa a desenvolver efectivamente a indústria alemã.
Ninguém duvide que Portugal necessita de um momento napoleónico de protecção para recomeçar o seu desenvolvimento.
A prioridade deverá ser um sistema económico em que mais importante que a divisão internacional do trabalho (defendida pelos clássicos Smith, Ricardo) é assegurar que o país volta a produzir e utilizar bem os seus recursos (como referia o economista alemão List).
List em três ou quatro frases resumia os dilemas que vivemos actualmente. Dizia o economista alemão que as economias de cada país devem ser encaradas numa perspectiva nacional tendo em atenção as seus especiais características uma vez que cada economia tem as suas condições específicas e o seu grau de desenvolvimento. Ele era muito claro dizendo que o resultado de uma zona de comércio livre( como é, também, a actual União Europeia) não seria uma zona universal igualitária, mas acabaria por resultar na sujeição universal das nações menos avançadas à potência predominante. Parece que estava a falar de Portugal ou Grécia face à Alemanha e amigos nórdicos… Essa sujeição passa-se obviamente neste momento.
Uma comunidade económica justa, isto é uma união de nações que reconhecem as mesmas condições entre elas (no fundo um mercado livre e comum) só pode ser realizada se essas nações atingirem o mesmo grau de industrialização, cultura e poder. Só com a gradual chegada a este estado igualitário pode ser formada uma zona de comércio livre. Até lá as nações mais fracas têm que ter algum nível de protecção para não ficarem subjugadas.
Em Portugal chegou o momento da realidade. Não produzimos o que necessitamos para consumir e o tempo das engenharias financeiras terminou. Assim, qualquer recuperação deve voltar ao básico, recomeçar pelos aspectos da produção. Produção agrícola e produção industrial. Este é o ponto essencial. Naturalmente, que para retomar a produção será necessária protecção. Não se pense que com as actuais circunstâncias – pertença ao Euro e fronteiras abertas com a UE, mas fechadas para uma boa parte do mundo – será possível essa retoma. A retoma implica um grau de proteccionismo para apoiar o renascimento agrícola e industrial, que será aplicado num estilo deslizante. Isto é alguns produtos estrangeiros serão objecto de tarifas mais elevadas, prevendo-se depois um abaixamento gradual dessas tarifas, simultâneo com o renascimento industrial e agrícola português.